Thursday, March 5, 2009

CO2 e mudanças climáticas: Mito ou realidade?

No ano de 2006, Al Gore, ex-vice-presidente na era de Clinton e ex-candidato democrata à presidência dos EUA (derrotado por George W. Bush nas eleições para o seu primeiro mandato), lançou um documentário chocante sobre alterações climáticas que virou a balança da opinião pública – o famoso “An Inconvinient Truth”. As imagens assustadoras de glaciares a derreter, aliadas a previsões de cheias e outras catástrofes ambientais (e troços para comover e puxar lágrimas, por exemplo do desastre do furacão Katrina em New Orleans), espalharam pela sociedade um receio profundo de tal cenário apocalíptico. Até esse momento, havia discussões acesas e divididas sobre a veracidade do aquecimento global e a sua atribuição à emissão de CO2 para a atmosfera, que dividiam os media e realçavam a necessidade de estudar mais a fundo o problema. Depois do lançamento do documentário (e da atribuição do prémio Nobel da Paz ao Al Gore, em 2007), o tema foi dado como esclarecido e a discussão passou de “será verdade?” para “como podemos controlar a situação?”.

No entanto, a comunidade científica continua dividida. O que todos têm vindo a tomar como certo, a tal destruição terrestre que acreditam que nos espera se não controlarmos drasticamente as emissões de CO2, ainda é debatido por alguns cientistas e políticos. Entre as pessoas que rejeitam as conclusões globalmente aceites estão milhares de cientistas reputados, aos quais se aliam grandes pensadores independentes. De um lado, os defensores da teoria de aquecimento global acreditam em três pontos essenciais: está provado que a Terra está a aquecer de forma anormal; está provado que esse aquecimento extremo (que terá efeitos nefastos no planeta) está a ser causado pelo dióxido de carbono que lançamos para a atmosfera; e o combate às emissões de CO2 está ao nosso alcance através de uma série de medidas fáceis de implementar, que poderão até criar emprego. Do outro lado, os que questionam as emissões de CO2 como causa do aquecimento global defendem que: o aquecimento recente da Terra não tem fugido ao esperado, tendo em conta o registo histórico; não existe qualquer prova de que o carbono atmosférico seja a causa fundamental do aquecimento global; e o combate ao aquecimento global vai ser realizado às custas de outras causas nobres, como o combate contra a pobreza.

Discutamos estes tópicos ponto a ponto:

Estará a Terra a aquecer anormalmente?
Ninguém questiona que o aquecimento global anormal poderia ter consequências gravíssimas para o nosso planeta. Todos confirmam efeitos terríveis de tal fenómeno, como a subida drástica do nível das águas (submergindo zonas onde actualmente habitam dezenas de milhões de pessoas), o risco de arrefecimento dramático da Europa e o aumento do número e impacto de catástrofes ambientais (como furacões e tornados). No entanto, existe alguma controvérsia quanto à ideia de que a Terra se encontra actualmente numa tendência de aquecimento anormal.
Os defensores da teoria de aquecimento global apresentam várias provas nesse sentido. Em primeiro lugar, falam do aquecimento atmosférico: explicam que os dez anos mais quentes dos últimos cem se passaram todos há menos de 14 anos, e que o mais quente foi 2005. Em segundo lugar, falam do aquecimento do mar: dizem que as temperaturas da água têm vindo a subir consistentemente no século passado. Finalmente, falam da redução das zonas geladas: mostram que os glaciares têm vindo a derreter, diminuindo consideravelmente tanto de área como de espessura (redução de 40% na sua espessura desde 1970!).
Do outro lado, os que questionam o aquecimento global dizem que a temperatura Terrestre se encontra dentro do previsto e considerado normal. Em relação à temperatura atmosférica, mostram que no último século houve um período de subida entre os anos vinte e os anos quarenta, seguido de uma descida até aos anos sessenta (em que se chegou a temer o arrefecimento global), terminando com o aumento de temperatura que se tem sentido nos últimos anos (até 2005). Terminam realçando que o século XX não foi o mais quente do milénio, contrariamente ao que por vezes se dá a entender. Em relação ao mar, defendem que a temperatura está a subir, de facto, mas de forma gradual desde o ano 1500 D.C., em que terá ocorrido um mínimo histórico. De facto, apesar do aumento constante desde 1500 D.C., ainda estamos longe de atingir a temperatura que se fazia sentir no ano 1000 A.C. Finalmente, em relação ao descongelamento glaciar, defendem que é um processo que se tem passado lentamente desde o ano 1800 D.C., com um atraso de 20 anos relativamente a aumentos de temperatura, e que há na realidade um conjunto de glaciares que têm vindo a aumentar nos anos recentes (em diversas zonas do mundo), pelo que não se trata de um processo irreversível.

Será o CO2 a causa fundamental do aquecimento global?
O segundo ponto debatido, a disputa em relação à possibilidade de se considerar o dióxido de carbono libertado por humanos como causa do aquecimento global extraordinário, é o mais importante em discussão, já que é o que põe em causa o tratado de Kyoto (que limita as emissões de carbono de todos os países que escolheram ratificá-lo – não foi o caso dos Estados Unidos e da Austrália) e os recentes esforços de criação de mercados de carbono nos Estados Unidos e na União Europeia.
Em relação a este ponto, os defensores da teoria do aquecimento global são claros e inequívocos (nem poderiam falar de outra forma): dizem que a relação está provada. Em primeiro lugar, explicam o fenómeno de efeito de estufa, em que o carbono atmosférico aprisiona o calor reflectido pela superfície terrestre, contribuindo para uma subida da temperatura atmosférica. Isto serve para deixar uma base lógica de causalidade entre carbono e aquecimento. Depois, apresentam um gráfico que mostra que o nível de carbono na atmosfera tem vindo de mãos dadas com a temperatura terrestre desde há centenas de milhares de anos, deduzindo que de facto existe essa tal relação de causalidade. Finalmente, dizem que apenas cerca de um porcento dos artigos científicos publicados nos últimos cem anos questionam o fenómeno de efeito de estufa, pelo que a comunidade científica está de acordo sobre a questão (apesar deste facto, os media têm 58% de artigos a questionar a causalidade da relação entre carbono libertado por humanos e aquecimento global, o que sugere a existência de lobbies na origem de tais artigos – por exemplo a indústria petrolífera).
Do outro lado, lançam-se dúvidas e contra-argumentos. Quanto ao efeito de estufa, aceitam que é uma teoria com bases científicas, mas apontam para o facto de não se saber qual a intensidade desse efeito (se será responsável pelo aumento de um grau centígrado, ou de dez), nem a quantidade de CO2 que seria necessário libertar para que se verificasse (ou seja, se as quantidades que temos libertado são suficientes para causar algum efeito). Em relação ao acompanhamento histórico da temperatura e do carbono na atmosfera, mostram que os aumentos de carbono têm vindo depois dos aumentos de temperatura, revertendo a relação de causalidade. Para deixar bem claro: o que dizem é que historicamente o aumento de temperatura causa um aumento de carbono na atmosfera, em vez de ser ao contrário. Explicam este facto com o dado inquestionado (mesmo pelos defensores da teoria do aquecimento global) de a água do mar ter menos capacidade de retenção de CO2 com temperaturas mais elevadas. Mais ainda, apresentam uma relação entre a actividade solar e a temperatura terrestre como sendo mais forte que a relação com o nível de carbono atmosférico (sendo que nesta relação de causalidade é evidente que a causa seria o Sol). Finalmente, em relação ao suposto consenso da comunidade científica, acumularam várias listas de assinaturas de cientistas reputados que defendem que o aquecimento global ainda é uma questão controversa que deve ser discutida e analisada em maior detalhe. Terminam realçando o facto de grande parte dos estudos realizados visarem provar a teoria do aquecimento global e não esclarecer o fenómeno do aquecimento global, o que segundo eles denota parcialidade.

A restrição de emissões de CO2 terá consequência económicas graves?
Finalmente, vem o terceiro ponto de disputa: os efeitos económicos do combate à libertação de carbono. É importante pormos um preço no conjunto de medidas de que se fala, para sabermos exactamente aquilo de que estamos a abdicar para as concretizarmos.
Do lado dos defensores do controlo da libertação de CO2 há dois argumentos fundamentais para a suposta facilidade de implementação das medidas e reduzido impacto económico. Em primeiro lugar, dizem que não só já dispomos da tecnologia necessária para o fazermos, como ainda por cima grande parte das medidas são economicamente rentáveis por si só (por exemplo, usar lâmpadas de alto rendimento é um investimento que compensa em termos económicos – a energia poupada compensa o preço da lâmpada). Em segundo lugar, dizem que as grandes mudanças a nível mundial vão criar emprego, por exemplo na renovação da rede eléctrica ou na construção de centrais de energias renováveis.
Do outro lado, a crítica é feroz. Vários economistas, nomeadamente o controverso presidente da República Checa, Vaclav Klaus, defendem que o ponto não está sequer em dúvida: para reduzirmos as emissões de CO2 vamos sempre ter de reduzir a produtividade, já que a legislação ecológica apresentará restrições à actividade industrial. Mais ainda, explicam que este fenómeno será bastante injusto, já que afectará principalmente os países que se encontram actualmente em desenvolvimento explosivo, como a China e a Europa de Leste, que sem tais restrições veriam as suas emissões aumentar cerca de 30% ao ano (os Estados Unidos e a Europa, que poluíram muito no passado e já conseguiram chegar a um patamar produtivo estável, não serão tão afectados pelas restrições de emissões). Assim sendo, um combate global às emissões de CO2 seria injusto e teria consequências graves a nível de pobreza e desigualdades económicas e sociais.

Todo este tema foi varrido para debaixo do tapete da opinião pública mundial. Neste momento, os líderes políticos têm como única preocupação arranjar formas de combater as emissões de CO2, dando como ultrapassada a discussão sobre as causas reais do aquecimento global. Alguém que exprima em público dúvidas sobre a veracidade da influência do CO2 no aquecimento global é tomado como parvo ou capitalista selvagem, mesmo que revele estar bem informado sobre o assunto. Por outro lado, esta situação dá força aos movimentos de “limpeza atmosférica”, que estão a finalmente a conseguir entrar nos Estados Unidos e prometem vir a alcançar reduções consideráveis de poluição. A força deste movimento é vital para o seu sucesso, principalmente numa época de recessão em que é extraordinariamente difícil abordar temas que condicionem a riqueza económica (como o ambiente).

Há milhentos vídeos e sites a defender a teoria do aquecimento global. Como há menos a pô-la em causa, deixo aqui links para três vídeos com o presidente Vaclav Klaus, da República Checa, que argumenta de forma extraordinariamente eloquente contra algumas ideias instituídas:

http://video.google.com/videosearch?q=klaus+warming&emb=0&aq=f#
http://www.youtube.com/watch?v=E0oVdGPAZ3A
http://video.google.com/videosearch?q=klaus+warming&emb=0&aq=f#q=vaclav+klaus+&emb=0


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